quarta-feira, 15 de junho de 2011

17.Minha bela Marilia, tudo passa (Lira séc XIV) de Tomas Antonio Gonzaga

Minha bela Marília, tudo passa; 
A sorte deste mundo é mal segura; 
Se vem depois dos males a ventura, 
Vem depois dos prazeres a desgraça. 
Estão os mesmos Deuses
Sujeitos ao poder ímpio Fado: 
Apolo já fugiu do Céu brilhante, 
Já foi Pastor de gado.
A devorante mão da negra Morte 
Acaba de roubar o bem, que temos; 
Até na triste campa não podemos 
Zombar do braço da inconstante sorte. 
Qual fica no sepulcro,
Que seus avós ergueram, descansado; 
Qual no campo, e lhe arranca os brancos ossos 
Ferro do torto arado. 
Ah! enquanto os Destinos impiedosos 
Não voltam contra nós a face irada, 
Façamos, sim façamos, doce amada, 
Os nossos breves dias mais ditosos. 
Um coração, que frouxo
A grata posse de seu bem difere, 
A si, Marília, a si próprio rouba, 
E a si próprio fere. 

Ornemos nossas testas com as flores. 
E façamos de feno um brando leito, 
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito, 
Gozemos do prazer de sãos Amores. 
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre; 
E para nós o tempo, que se passa, 
Também, Marília, morre. 

Com os anos, Marília, o gosto falta, 
E se entorpece o corpo já cansado; 
triste o velho cordeiro está deitado, 
e o leve filho sempre alegre salta. 
A mesma formosura
É dote, que só goza a mocidade: 
Rugam-se as faces, o cabelo alveja, 
Mal chega a longa idade. 

Que havemos de esperar, Marília bela? 
Que vão passando os florescentes dias? 
As glórias, que vêm tarde, já vêm frias; 
E pode enfim mudar-se a nossa estrela. 
Ah! Não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça 
O estrago de roubar ao corpo as forças 
E ao semblante a graça.

Nenhum comentário:

Postar um comentário